O longa de
Apichatpong Weerasethakul é uma espécie de "queridinho" de diversos críticos de cinema. Tem muita lógica, afinal, o diretor tailandês tem uma maneira bem peculiar de abordar suas histórias sobre a vida e a morte. O longa por si só já é interessante por apresentar um paciente terminal que vive seus últimos momentos com familiares em uma fazenda.
A história é apresenta com a reflexão de Boonmee sobre acontecimentos de sua vida. A angústia da finitude humana faz contrapartida com as manifestações de crenças locais, onde fantasmas de formas animais vagam por florestas. Para isto Apichatpong usou do recurso da fotografia ,que é uma espécie de marca registrada dele, onde coloca as pessoas em menor plano em relação à natureza através longos takes. Tal recurso pode ser considerado como genial ou um total pé no saco, já que ângulos interessantes ficam durante muito tempo em cena.
O que faz Tio Boonmee pulsar de maneira diferente e fantástica é o fato da fotografia e o enredo desenvolverem-se de maneira arrastada. O diretor convida o público para uma apreciação dos "espíritos naturais", toda a tomada é feita valorizando sons naturais e detalhes como movimentos das folhas provocados pelo vento. Tudo move-se devagar na cena, e os personagens são espécies de coadjuvantes do cenário. Aqui podemos notar a originalidade de Apichatpong, onde cria uma narrativa diferente da usual.
Mas nem tudo é positivo, os longos takes acabam sendo muito cansativos, até mesmo nos melhores enquadramentos fotográficos. Muita gente pode amar ou odiar o fato da composição fotográfica ser primordialmente formada por molduras de sombras arrematadas com fragmentos de paisagens centralizadas. Tal efeito fica legal em diversas cenas, só que algumas vezes as partes com maior iluminação ficam terrivelmente estouradas.
Os atores são fracos, mas não podemos crucificá-los, já que fica evidente o esforço de cada um em tentar uma interpretação correta. Existe o problema do filho de Boonmee, que é uma espécie de fantasma de homem-macaco, só que ele usa uma fantasia que chega a ser ridícula até para um filme trash dos anos 70.
Penso que Tio Boonmee é uma grata surpresa pela sua ousadia cinematográfica, mas não podemos achar que esta é a última maravilha do cinema. Em muitos momentos Apichatpong quis ser "atmoférico" demais, o que torra a paciência de muita gente, tornando as "cenas espirituais" uma sequência quase brega de imagens da natureza. Acho que para chegarmos ao ponto de "maravilhoso" o diretor deverá rever alguns pontos no seu estilo.