A tecnologia sempre ajuda a destruir preciosidades de épocas passadas. O estudante que mora ou utiliza o transporte público de Porto Alegre deve conhecer o Cartão TRI. Este promoveu o assassinato das fichinhas escolares, velhas preciosidades que serviram como “renda extra” para nós, estudantes de tempos anteriores.
A antiga passagem escolar foi uma espécie de sistema financeiro juvenil de troca para diversas pessoas habitantes da capital, já que muitos revendiam e conseguiam algum lucro. Obviamente este mercado negro foi abolido com a adoção do cartão magnético (TRI) que não permite qualquer tipo de revenda. E como eram boas as fichinhas, com elas eu podia pagar uma hora na locadora aqui perto de casa quando matava aula ou saía mais cedo no Ensino Fundamental. Tardes jogando Winning Eleven, Mortal Kombat, Driver e outos no super moderno Playstation 1 (isso era final dos anos 90). E o melhor é que quase todas as locadoras do bairro aceitavam tal moeda.
O Ensino Fundamental termina, com isso rumei para o clássico Colégio Estadual Júlio de Castilhos (Julinho). Ali também achei utilidade extra para as fichas escolares: lanches. Gastava em dobro minhas passagens já que era obrigado a pegar ônibus e sempre queria algum petisco como os cachorros quentes preparados nas Towners, cujo preço eram 2 fichinhas. Também havia os maravilhosos risoles e folhados do “Tio do Lanche” que em vários dias tinha mais passagem do que dinheiro. Ainda na minha fase de ensino técnico em outro colégio estadual, o Parobé, podia apreciar um hot dog de carrocinha pela mesma técnica.
Desisto de estudar no Parobé e faço Técnico em Informática no Colégio Estadual Dom João Becker. Ali ainda consegui usa-las no bar durante um ano, mas chega 2008 com o golpe fatal: o surgimento do Cartão TRI. Era decretado o fim das compras irregulares pelos estudantes. Poderíamos ser grandes criminosos de maneira indireta, eu nunca sabia como as fichas eram negociadas e nem preço que atingiam ao final do seu ciclo ilegal. Agora tudo é apenas memória em nossas cabeças saudosistas e um problema a menos pra os donos de empresas de ônibus.
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