De vez em quando penso nos chicletes colados nas ruas e calçadas do Centro Histórico de Porto Alegre, especialmente os alocados na Avenida Salgado Filho de frente a parada da linha de ônibus Cohab. São dezenas de fósseis químicos enterrados de maneira praticamente perpétua no coração da cidade. Suas cores vibrantes de outrora foram substituídas pelo cinza e negro da sujeira característica do local. Sempre olho para o chão e penso como alguns membros desta equipe devem ser antigos e imagino os seus “mascadores” de épocas bem longíquas. Será que os donos cuspiram após a saída de uma costumeira viajem no veículo? Será que cuspiram para abocanhar um cigarro? Será que cuspiram para beijar alguém? Ou será que simplesmente estavam cansados da monotonia de tanto mastigar?
Talvez algumas gomas lá pregadas possam ter sido mascadas por gente já falecida ou ainda muito viva. Penso que existam chicletes de alguma personalidade, de algum sonhador, de alguma pessoa sem mais perspectiva, de algum adolescente narcisista, de algum funcionário arrastando-se no tédio de idas e vindas, do vendedor de Mandolate, do ex-vendedor de fichinhas, de algum arrogante, de um senhor carregando o peso de uma dívida, de alguma prostituta recolhendo-se ao início de um novo dia, de algum Bêbado jornalista, de alguém que estava com uma grande larica ou de alguma pessoa que passa despercebida no meio de tantas outras incógnitas. Acho que por causa dessas diversas referências penso nos chicletes colados na calçada como grandes histórias de vida.
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